Imortalizado por sua trajetória, amado e respeitado por sua história de vida, Nelson Mandela, era muito mais que um exemplo, um líder ou mesmo uma lenda política. Mandela representava um sonho – O sonho da liberdade. Sonho, que ao longo de décadas acalentou a vida de milhões de sul africanos. Sonho que inspirou milhões de seres humanos ao redor do mundo, independente da cor da pele, que irmanados buscavam dar fim a um dos regimes mais odientos da história da humanidade, o apartheid. Com simplicidade, firmeza e generosidade Mandela liderou um dos maiores movimentos pelos direitos humanos da história da humanidade. E para tanto, não teve dúvidas em fazer uso de todas as armas que estavam disponíveis, para convencer o mundo de que a civilização e a nação, a igualdade e a razão não podiam conviver com a barbárie representada pelos afrikaners. Pagou caro por defender o direito à liberdade para todo e qualquer ser humano. Foram vinte e sete anos de cadeia, humilhação e privação. Sem nenhuma queixa, sem nenhum ódio, sem nenhuma vacilação. Enquanto isso, o mundo civilizado, em particular os europeus e norte americanos, secundados pelos israelitas, alimentavam e alimentavam-se dos horrores vividos pelos sul africanos. Mandela, sua luta e seus princípios sobreviveram a tudo. A iniqüidade humana, ao charlatanismo da diplomacia, as negociatas dos políticos e as armas dos poderosos. Claro que para tanto, contou com sinceros e leais colaboradores, e disto nunca esqueceu. Não fosse a poderosa e firme organização do Congresso Nacional Africano (ANC), liderado pelos comunistas sul-africanos e que contava com a presença de negros e brancos, irmanados na luta pela liberdade, provavelmente seu destino e sua luta não teriam alcançado tamanho êxito. Mas, em que pese o reconhecimento de Mandela sobre a importância do ANC na luta contra o apartheid, ele nunca deixou de ser o guia, a luz e a certeza de que a vitória era certa. Neste período, não faltaram propostas iníquas e tentadoras tanto para que ele abrisse mão das suas convicções quanto para que traísse a luta e os seus companheiros, nem por isso Mandela se deixou encantar pelo canto da sereia, como temos visto ao nosso redor. Mandela, ao contrário, continuou, firme e sereno, sincero e objetivo, pois a liberdade não se negocia se conquista. Em 1991 fui agraciado pela vida e tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, era o apresentador, no evento que foi realizado na cidade do Salvador, na Praça Castro Alves, logo após a sua libertação na África do Sul e que tinha como objetivo maior saudá-lo e reverenciá-lo por sua gigantesca vitória, além, evidentemente, de fortalecer a nossa luta contra o racismo no Brasil. Foi uma noite memorável, milhares de pessoas (em torno de 80 mil) tomaram a Praça Castro Alves cantando e dançando em homenagem a Mandela. E, ele surpreendeu a todos: sua delegação que ora composta de 14 pessoas, tinham 07 negros e os outros 07 eram das demais raças que compunham a África do Sul (brancos e indianos). Perguntado sobre o assunto, ele afirmou categoricamente que era proposital, pois ele precisava mostrar ao mundo que pretendia presidir não um grupo étnico, mas uma nação, e para dirigir a nação sul africana era necessário unir a todos, independente da cor da pele. Era a demonstração clara de que a democracia servia de pedra angular não apenas dos seus discursos, mas também da sua prática. Eleito Presidente da África do Sul, mais uma vez ele surpreendeu a todos, em vez de buscar a vingança tão desejada por muitos e até justificável pelas barbaridades cometidas pelo regime do apartheid, ele dedicou seu mandato, sua energia e sua liderança para pacificar o país. Expiou a culpa de todos em praça pública, com o famoso Ubuntu (humanidade com os outros) que fez com que os repressores do regime revelassem e se desculpassem em público, das atrocidades cometidas contra os sul-africanos evitando assim um verdadeiro banho de sangue. Não à toa ganhou o Prêmio Nobel da Paz ao lado do líder afrikaner Frederick Leclerc. Este legado de paz, serenidade, generosidade e sabedoria de Nelson Mandela, foi algo singular no cenário mundial do século XX, onde a vingança e o revanchismo se fez presente de forma aterradora, como na segunda guerra mundial, em que os EUA bombardearam os japoneses com duas bombas atômicas (Hiroxima e Nagazaki), apenas para vingarem-se de Pearl Harbor ou dos assassinatos em série perpetrados pela PIDE, CIA, etc. contra as lideranças africanas que lutavam pela independência dos seus países do jugo colonialista. Portanto, Mandela é luz, é vida e guia exemplar para todos aqueles que acreditam num mundo melhor, que acreditam que a cor da pele, a origem social, a religião professada, o partido ao qual é filiado, a governabilidade a qualquer custo ou a grana que temos no bolso ou nas contas dos paraísos fiscais não podem ser o critério de bem estar ou de felicidade das sociedades humanas. MANDELA VIVE! VIVA MANDELA! Toca a zabumba que a terra é nossa! Zulu Araújo, ex-Presidente da Fundação Cultural Palmares e ativista do movimento negro latino americano. |
Zulu Araujo
|