Quero falar com você, sim, você mesmo que vive repetindo que essa história de racismo é coisa de negro, você que fala que tem amigos negros, e até sua avó era preta! Você também concorda que esses pretos são “coitadistas”?
Você acha que tudo que dizem por aí é sofrência e que negro é uma raça de preguiçoso, e que o Brasil não deve nada a eles? E que não precisa fazer reparação alguma? Chega até dizer que os negros são inteligentes (nisso concordamos) e não precisam de cotas para estudar nem para trabalhar pois têm capacidade para realizar sozinhos essas conquistas, lhe convido a refletir: Quantos negros foram convidados para vir ao Brasil ensinar tecnologia? Ensinar filosofia, poesia, literatura e outras artes? Tá admirado? Acha isso um absurdo? Não, não é! Muitos daqueles homens e daquelas mulheres que foram trazidos para esse continente, à força, eram reis, príncipes, rainhas, princesas, e detentores de culturas e outros conhecimentos em suas nações e tribos. Então, imagina você, isso tem preço? Pode ser reparado?
Outra coisa, você lembra em 1888, como se deu a tal libertação da escravatura? Os português, primeiros exploradores das riquezas brasileiras tentaram escravizar índios, não deu certo. Partiram então em busca dos negros africanos, submetendo-os ao trabalho forçado em regime de escravidão. Essas pessoas, que foram arrancadas de seus lares e trazidas para outras terras, viveram estilos e modos de vida completamente alheias às suas vontades, em especial, suas necessidades.
Você poderia dizer os negros já foram libertos a muito tempo e indagar porque essa choradeira? Pois bem, vamos relembrar. Os negros foram trazidos contra sua vontade; os negros foram forçados a trabalhar sem paga; os negros foram abandonados e jogados no meio das estradas das fazendas. Sim, eles não foram libertados, nem resgatados por uma força tarefa do Ministério Público, eles foram simplesmente expulsos das fazendas sem indenização alguma. Se ele foram libertos, porque não os devolveram aos seus países de origem? Porque não indenizaram suas famílias e descendentes para seguirem a vida com, pelo menos, o padrão mínimo de sobrevivência?
Se, no processo de substituição do regime escravagista, os negros foram preteridos por suas supostas faltas de habilidades, por outro lado, o estado brasileiro entrou fortemente no negócio de importação de trabalhadores europeus, povoando o campo e as cidades, renegando aos negros os piores postos de trabalho e de moradias, o que perdura até os dias atuais.
Então, ainda acha que são “coitadistas” aqueles e aquelas que se utilizam das cotas raciais para o empoderamento pessoal e familiar? Saiba que os estudantes cotistas possuem a menor taxa de evasão do ensino superior e maior dedicação no aprendizado. Talvez isso te ajude a aceitar a manutenção das cotas como forma de política pública de inclusão. Se continua na mesma linha de pensamento, lamento, você tá por fora!
Euclides Vieira Silva
Membro da NSB