Policiais e seguranças particulares agridem duas vezes mais homens negros do que brancos. O resultado faz parte da análise “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça no Brasil”, divulgada nesta segunda-feira (6) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada). Com base em séries históricas da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE), o IPEA traçou um panorama da desigualdade de raça e de gênero no Brasil sobre temas como saúde, mercado de trabalho, renda, trabalho doméstico, pobreza e saneamento. Os indicadores são apresentados de forma recortada: tanto para mulheres e homens, negros e brancos, quanto para mulheres brancas, mulheres negras, homens brancos e homens negros.
No bloco de “vitimização”, foram usadas informações de 2009, coletadas pelo IPEA, quando mais de 2,5 milhões de brasileiros relataram ter sofrido algum tipo de agressão física.Desse total de registros, 113.119 casos foram cometidos por policiais ou seguranças particulares. Nessa situação, a diferença no perfil da vítima é evidente: 38.365 vítimas da agressão física eram brancas, enquanto que 74.754 eram negras (diferença de 95%, ou quase o dobro).
Quando se faz a análise “homens brancos X homens negros”, a diferença fica ainda maior. No ano de 2009, segundo os registros da PNAD, 29.270 homens brancos sofreram agressão de policiais e seguranças privados. No caso dos homens negros, foram 67.573 casos (130% a mais). Na análise “mulheres brancas X mulheres negras”, a violência dos agentes de segurança é maior contra as brancas: 9.086 casos, ante 7.181.
O levantamento do IPEA é mais um a revelar a diferença de tratamento dispensado por agentes de segurança contra a população negra. Em março de 2014, a Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) divulgou uma pesquisa mostrando que a Polícia Militar de São Paulo mata três vezes mais negros do que brancos.
Descrédito da polícia
O levantamento do IPEA também revelou o descrédito da população com relação às autoridades policiais, já que mais da metade das vítimas de agressão física sequer procuram a polícia para registrar o caso. Consideram o conjunto total da população (mulheres e homens; negros e brancos), das mais de 2,5 milhões de pessoas que relataram agressão, 55,7% não procurou a polícia.
Os homens acabam procurando as autoridades menos do que as mulheres: 61,1% e 48,5%, respectivamente.
Considerando o recorte de raça e gênero, a relação se mantém, mas é sempre maior no caso dos negros: 65,3% dos homens negros vítimas de agressão não procuraram a polícia, contra 54,5% dos homens brancos, 50,5% das mulheres negras e 46,1% das mulheres brancas. O principal motivo alegado para não recorrer à polícia, em todos os recortes de gênero e raça, é “não acreditar na polícia” ou “não querer envolver a polícia no caso”.
Fonte: R7