O número recorde de artistas negros concorrendo ao Oscar 2017 não significa que a indústria cinematográfica tenha aberto de vez as portas de Hollywood a profissionais não brancos. A avaliação de especialistas é que o constrangimento causado por campanhas antirracistas em 2016 e o contexto político atual nos Estados Unidos tenham influenciado os mais de 6 mil jurados do prêmio. Porém, os críticos destacam a impacto positivo das indicações. Para eles, é uma oportunidade de divulgar artistas e filmes feitos do ponto de vista dos afro-americanos, como afirma o antropólogo e comunicador, que acompanha o tema, Athayde Motta. Sonora: “Esse ano, particularmente, foi mais interessante porque não ficou só na representação, ampliou-se para outras áreas.” Um ano depois da campanha que denunciou a ausência de afro-americanos no Oscar com a hashtag #OscarSoWhite, obrigando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a diversificar o júri, concorrem a cobiçada estatueta dourada, pela primeira vez, seis negros aos prêmios principais, de melhor ator e atriz. São pelo menos 18 negros indicados ao Oscar 2017, em várias categorias. Sonora: “Essa sempre foi uma reclamação da comunidade artística negra nos Estados Unidos. É impossível ficar esperando pelo convite para o papel que vai te dar o Oscar. Cinema é pensar diálogos, produção, fotografia. Se você não tiver gente trabalhando em tudo isso, fica muito difícil o reconhecimento.” A sensibilidade dos jurados e o contexto, no entanto, não seriam suficientes se não houvesse grandes performances em 2016. Concorrendo em três categorias – de melhor filme, roteiro adaptado e atriz coadjuvante – está o filme Estrelas Além do Tempo, que desbancou a bilheteria de Guerra nas Estrelas, nos Estados Unidos. O longa conta a história de mulheres negras no programa espacial daquele país. Com o filme, a atriz negra Octavia Spencer, que é negra, conhecida no Brasil pelo filme das empregadas domésticas História Cruzadas, entrou na lista de indicações. A historiadora e pesquisadora Janaína Oliveira, coordenadora do Fórum Itinerante de Cinema Negro (Ficine), acredita que Hollywood está longe de deixar de lado o racismo definitivamente. Porém, vê nas indicações e na maior circulação de filmes com negros em posições de destaque uma chance de desconstruir estereótipos que foram criados pelo próprio cinema. Sonora: “Das imagens contemporâneas da mulher negra sempre temos a mulher negra raivosa, barraqueira, agressiva. Ou de homens negros sempre com uma pulsão sexual incontrolável, que sempre vai querer a mulher branca como objeto de desejo e, não conseguindo, acaba por violentá-la. Enfim, todos esses estereótipos estão aí, o negro como bandido, traficante.” Além dos dois filmes com diretores negros que estão na disputa pelo Oscar de melhor filme, O Moonlight: sob a luz do luar e o Cercas, do ator e diretor Denzel Wahsingtin, três documentários que tocam na questão racial também estão na disputa.
By: radioagencianacional.ebc
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Jackson Bueno
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