Entenda:
O negro brasileiro tem sido exposto diariamente a situações de humilhação. Aprende, desde cedo, através de mecanismos eficazes de reprodução ideológica, que as características identitárias valorizadas positivamente são as do branco e que lhe cabe não mais que a reprodução do ideal branco-europeu para poder ser socialmente aceito.
O preconceito e a discriminação racial são processos que permeiam a construção da identidade do brasileiro.
Dessa forma, ao negro coube a possibilidade de se desenvolver como cidadão de segunda classe, decorrendo daí o desenvolvimento de uma identidade articulada em torno de valores considerados socialmente negativos, alimentados pelo preconceito e pela discriminação.
A discriminação é geralmente veiculada de uma forma encoberta, através de frases educadas e de eufemismos, alimentando a ideia de que no Brasil o preconceito não existe, o que evidentemente é uma inverdade.
Um dos lugares fundamentais para a construção da identidade do indivíduo desde a infância é a escola. Infelizmente, é também um dos lugares em que o preconceito e a discriminação são também desenvolvidos e alimentados. Além disso, a discriminação às quais as pessoas negras foram submetidas na busca de empregos são situações associadas a desprazer, angústia e a um sentimento de impotência. Por esse motivo, muitas vezes resta à pessoa procurar empregos tidos como de execução, em que a força física é exigida.
O afrodescendente, ao longo de sua vida, vai se sentindo tolhido no exercício pleno de sua cidadania, e aprende, comumente, a silenciar. Porém, como humano e dotado do mesmo substrato psíquico que os indivíduos não negros, vai assim construindo uma experiência de vida marcada pelos efeitos da rejeição, da igualdade de direitos que não pode exercer e da falsa aceitação social; tende, portanto, a desenvolver-se em um contexto que lhe dificulta a possibilidade de autonomia e ascensão social.
Assim é construído essa ideólogia limitante que nos persegue e muitas vezes não percebemos, o quão vítimas da sociedade somos.]
Texto: Mayrla Silva
Fonte: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932011000200013