Por Marcelo Diniz
Secretário Geral da Negritude Socialista Brasileira em Pernambuco
Para a Negritude Socialista Brasileira, o ano de 2022 inicia com muitas demonstrações de que será desafiador para o movimento pela igualdade étnico-racial: no Ceará, a polícia inclui imagem do ator Michael B. Jordan em investigação sobre chacina; em Pernambuco, incêndio criminoso põe abaixo um templo de religião de matriz africana; em um hotel do Rio de Janeiro, hóspedes não aceitam que um homem negro seja atendido antes deles, agridem o sujeito e ele põe um dos agressores pra dormir com um soco…
Não há novidade: desde que tivemos nossos ancestrais capturados, sequestrados, torturados, separados de suas famílias, traficados como mercadoria e finalmente escravizados, a luta da população negra para se impor enquanto igual neste país é diária. Se antes nos organizamos em quilombos, hoje essa resistência se dá de formas diversas e chegou – não sem oposição – a erigir políticas públicas importantes de reparação histórica, mas ainda está longe de acabar.
Por isso é importante reafirmar a necessidade de superação da herança escravocrata que distorce a imagem das pessoas negras, criminaliza e hostiliza as religiões de matriz africana, satiriza nosso sofrimento, adoece nossas mentes e precariza nosso trabalho, entre outros males provocados pela discriminação racial.
Para a Negritude Socialista Brasileira, o desafio é organizar cada vez mais essa população em torno da disputa real contra o Racismo Estrutural que perpetua a desigualdade racial, orientando o sistema de desigualdade social para excluir, preferencialmente, a parcela afrodescendente da população, que é maioria e muitas vezes, sequer se reconhece como tal, por força desse mesmo preconceito racial.
É preciso reunir no seio da luta política aquelas e aqueles que reconhecem no racismo uma base estruturante das deficiências de nossa sociedade, promovendo a ampliação do debate e demonstrando o quanto medidas negativas para a população brasileira em geral, são ainda mais cruéis com este segmento. Se o teto de gastos garante o lucro do capital financeiro enquanto sacrifica o desenvolvimento econômico e social induzido e dirigido pelo Estado, é a população negra que perde em acesso a direitos e em emprego e renda. Se a reforma trabalhista precariza a situação da classe trabalhadora, enfraquecendo as suas conquistas históricas, é a população negra a que mais sente os reflexos no subemprego e nos baixos salários. Se a reforma da previdência condena as gerações atuais a uma velhice sem perspectiva de uma renda que garanta o conforto e a saúde no futuro, é a população negra que enxerga em perspectiva o aumento de sua presença nas ruas com mais força.
Nosso desafio, antes da disputa externa, é a conscientização interna: cada pessoa negra deste país precisa saber que a disputa geral e a disputa específica não se opõem, mas se complementam. Precisamos de unidade, formação e construção cotidiana de espaços de profunda reflexão e ação política. O Socialismo Criativo é o caminho.
Nas eleições que se avizinham, é necessário ter como objetivo estratégico uma atuação organizada a partir do núcleo dirigente da NSB para influenciar de maneira decisiva a construção dos planos de governo das candidaturas socialistas refletindo esse pensamento
amplo, mas com capacidade de modificar a realidade em favor da Igualdade racial através da ocupação de postos e da implementação de políticas reparatórias no Poder Executivo. Também devemos ocupar espaços nos planejamentos e nas equipes de mandatos parlamentares, mesmo aqueles protagonizados por candidatos e candidatas não negros/as e, onde for possível, fortalecer candidaturas negras. Essa será a coroação do esforço partidário e militante pela inscrição do antirracismo na atuação partidária.
O PSB tem muito a contribuir com a ascensão de governos modernos, qualificados e comprometidos com os mais necessitados e toda a sociedade e a Negritude Socialista Brasileira precisa e pode contribuir muito com esta construção, oferecendo seus melhores quadros e organizando cada vez mais jovens, mulheres, lideranças experimentadas e também em formação, dentro do partido.