Em contrapartida, fenômeno oposto ocorre nas favelas, periferia e quebradas da cidade maravilhosa. Esses dados são provenientes do estudo Projeção quinquenal da população residente no município do Rio”, realizado pelos pesquisadores Kaizô Iwakami Beltrão, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Sonoe Sugahara, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo por base o Censo Demográfico do IBGE de 2010. O estudo alerta que a população do país passará a encolher por volta de 2040, seguindo uma tendência mundial, que também é de envelhecimento. No Rio de Janeiro, contudo, tal fenômeno começará a ser mlehor constatado uma década antes, por volta de 2030. A população da capital Fluminense deverá cair dos atuais 6,5 milhões de habitantes para algo em torno de 5,5 milhões (evidentemente, se nenhum outro fator não captado pelas projeções intervirem na composição demográfica). O estudo serve de base para a elaboração do Plano Estratégico do Município. Vejamos os dados elaborados pelo Infográfico do Jornal O Globo sobre a referida pesquisa:[i], em reportagem de 21/02/2016[ii] Conforme o gráfico acima, notamos que haverá uma redução da população nas faixas de 0 a 14 anos e de 15 a 59 anos de forma menos acentuada nas favelas (Maré e Rocinha), ao passo que o envelhecimento (mais de 60 anos) acontecerá em maior velocidade nas regiões de maior poder aquisitivo (Copacabana e Lagoa). Evidentemente que a taxa de envelhecimento nas favelas também sofre o impacto da alta taxa de mortalidade decorrente dos maiores índices de violência, do menor acesso aos serviços de saúde (especialmente a medicina preventiva) e as condições gerais de vida. Há o fato de que a gravidez na adolescência acontece de forma mais intensa nas regiões mais pobres, seja pela ausência de políticas saúde da mulher e de acesso a métodos contraceptivos, pela ausência de campanhas de educação sexual, mas também pelo fato de que as famílias de classe média possuem um acesso incomensuravelmente maior às clínicas de aborto, que, embora clandestinas, oferecem um atendimento melhor. Nas favelas, ainda teremos mais da metade de sua população compreendida entre 15 e 59 anos, e ainda tendo pelo menos um em cada cinco de seus moradores com idade abaixo dos 14 anos. Considerando esses dados, podemos afirmas que a renovação populacional ocorre predominantemente nas favelas, apesar da expectativa de vida ser menor do que em outras regiões da cidade, em geral, 12,8 anos a menos na média do que nas demais regiões da cidade[i]. Mas ainda assim, a população de idosos nas favelas será expressiva, mesmo que inferior ao percentual observado em bairros de elite e de classe média. Portanto, o desafio será criar, ao mesmo tempo, políticas públicas voltadas para a terceira idade e programas e ações direcionadas a juventude, com intervenções transversais nas áreas de saúde, educação, assistência social, saneamento, lazer, redução da mortalidade precoce, e evitar que a expressão “Ném, Ném” (nem estuda e nem trabalha) continue se alastrando. Evidente que tendências podem sofrer alterações. Mas ainda assim, o futuro deve nos reservar uma realidade razoavelmente próxima ao que as projeções indicam, e certamente deveremos ter mais jovens habitando nas favelas do que em outros locais. Um aumento da escolaridade poderá contribuir para a redução da taxa de natalidade entre as mulheres das favelas. Mas o que se revela é que essas localidades não só representam a história e o presente do Rio de Janeiro, como serão ainda mais importantes com o passar dos próximos anos para composição da vida cotidiana da Cidade Maravilhosa. Ao contrário de muitos pessimistas, o fenômeno descrito pela pesquisa poderá vislumbrar uma oportunidade, já que o envelhecimento populacional é um elemento crítico mesmo em países ricos. Mas, para que possamos reverter as expectativas em relação as favelas, será necessário uma ação do poder público que enxergue essas regiões para além da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) que, embora não questionando as suas boas intenções no seu momento inicial, dão evidentes sinais de fracasso e de restrição a uma militarização, cuja nomenclatura (Pacificadora), também em nada contribui para uma percepção democrática da relação entre o estado e seus habitantes. As redes de proteção e valorização da juventude pode aproveitas as experiências já existentes em entidades como a Agência de Notícias das Favelas e a Agências Redes para Juventude. Poderíamos citar o centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM), o Observatório das Favelas… Enfim… Muitos exemplos de envolvimento e aproveitamento de ações já existentes como elementos para – juntamente as práticas existentes em equipamentos públicos como hospitais, creches, escolas, centros culturais, entre outros – articular políticas públicas e de Estado capazes de tornar este desafio em uma janela de oportunidades integradora e de efetiva construção de uma cidade mais democrática, com distribuição de renda e de oportunidades. Afinal, como sempre cantou Zé Keti, “quando derem vez ao morro toda cidade vai cantar”. Nem toda favela é morro, mas a canção é linda e expressa muito bem o desejo de mudanças e de avanços que almejamos. [1] http://infograficos.oglobo.globo.com/rio/veja-as-projecoes-de-como-sera-a-populacao-daqui-a-meio-seculo.html [1] http://oglobo.globo.com/rio/daqui-50-anos-populacao-de-favelas-tera-menos-idade-que-em-outros-pontos-18718190 [1]http://www.bibliomed.com.br/news/index/8187/browse/residentes-de-areas-mais-ricas-do-rio-de-janeiro-tem-expectativa-de-vida-de-12-8-anos-a-mais-que-residentes-de-favelas.html |
Autor: Prof. Rafael dos Santos
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