A Secretaria Nacional de Mulheres Negras do PSB, reconhece a importância do dia 25 de julho – dia Internacional da Mulher Negra na América Latina e Caribe – data instituída pelo I Encontro de Mulheres Afro-latino-americana e Afro-caribenhas em Santo Domingo (Republica Dominicana /1992). Aproveitamos a data para exaltar a importância das organizações sociais que labutam em prol dessa população que sempre teve seus direitos negados; como também, são invisíveis a contribuição que esta população teve na construção da cultura dos povos, em especial, no Brasil, que ainda desconhece a nossa importância na construção da história do povo brasileiro. Nosso povo foi oprimido no âmbito linguístico-psico-cultural e econômico. Foi humilhado, sequestrado do seio da pátria mãe para se tornar escravo e escrava em diferentes países. Porém, após anos do fim da escravidão, a história (não conta) não valoriza a participação da população afro-brasileira na construção deste país. Ainda lutamos e reivindicamos a igualdade de oportunidades e o reconhecimento dos negros na formação da cultura dos povos dessas nações, ou seja, na américa latina e no caribe. Passado mais de quinhentos anos, nossos filhos são massacrados e os presídios estão lotados com o nosso povo; as autoridades nos palácios e nos tribunais ignoram a violência a que estamos expostos: “Como mostra o diagnóstico, os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. Dados do SIM/Datasus do Ministério da Saúde mostram que mais da metade dos 52.198 mortos por homicídios em 2011 no Brasil eram jovens (27.471, equivalente a 52,63%), dos quais 71,44% negros (pretos e pardos) e 93,03% do sexo masculino.(Brasil, 2014 – pág.11). Na saúde, o atendimento é precário. As políticas públicas voltadas para a população negra ainda não atendem nossas reais necessidades. “embora nas últimas décadas, as taxas de mortalidade na população em geral tenham diminuído e aumentado a expectativa de vida, a população negra ainda apresenta altas taxas de morbi-mortalidade em todas as faixas etárias, quando comprado com a população geral”(Brasil, 2011- pág. 3). Na educação, ainda somos tratados como escravos e escravas,“é preciso mudar a mentalidade dos educadores, para poder ensinar aos seus alunos que a história do negro não começa com a escravidão”(Brasil; 2004 -, pág. 204),a história não conta a luta dos movimentos sociais da época que contribuíram para o fim da escravidão. No mundo do trabalho, os afrodescendentes percebem piores salários, ocupamos os empregos mais vulneráveis,“A inserção do povo negro no mercado de trabalho é muito mais precária do que a população não-negra, especialmente em relação ao desemprego, à qualidade dos postos de trabalho e ao nível de renda” (Brasil, 2004 – pág. 204). Enfim, no cenário brasileiro somos tratados como subalternos, seres inferiores mesmo após anos de luta em busca da dignidade do povo negro, pelo acesso ao emprego, a educação, a saúde e por umtratamento respeitoso. Enfrentamos em pleno século XXI, a discriminação e o preconceito num país que diz conviver numa democracia racial. E para nós, mulheres negras latino-americanas e caribenhas, o que será que temos para comemorar? Ainda somos exploradas, sofremos com a erotização do nosso corpo, onde segundo alguns teóricos entre “santas e profanas,” terminamos por “ocupar o espaço de diversão casual”, somos invisíveis na formação da cultura dos povos e em certas literaturas somos apresentadas como mulher objeto, nossa participação é negada na história: Um pesquisa mais profunda mostra a participação efetiva e permanente de mulheres nas lutas contra a discriminação racial no Brasil. O binômio machismo/racismo é que não permite que se perceba o grau de importância da mulher negra na sociedade brasileira. Se já é difícil encontrar nos livros didáticos temas referentes à luta dos negros, à importância da cultura-afro-brasileira e de personagens negros na história do Brasil, muito mais difícil é encontrar nos livros a figura negra feminina. (Brasil, 2001- pág 22). Por isso, comemorar o 25 de julho é propagar a importância, a energia e a independência das mulheres negras de um feminismo que alocava a opressão de gênero como fator cruel, prioritário para as mulheres, sem considerar a demanda das mulheres negras. É empoderar a emancipação de um feminismo que não conseguia abranger as diferenças entre estas, ou seja, contemplar as multíplices experiências e identidades femininas. Dar visibilidade a essa data, é fortalecer a luta histórica de mulheres que foram e são as principais atrizes no pautar e exigir de seus países, o acolhimento de demandas que nos dias de hoje melhora a qualidade de vida das mulheres negras; é lutar pela garantia e acréscimo do acesso a direitos já conquistados em países de população constituída de afro-descendentes, como uma nação transnacional. É nessa visão de igualdade étnica que precisamos confiar, quando reverenciamos o vinte e cinco de julho, dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. A NSB aproveita ainda a oportunidade para homenagear Valcenir Patrocínio (foto), mulher guerreira, de lutas, que teve papel importante nesse mundo, partiu e deixou belos exemplos e muitas boas sementes.
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Valneide Nascimento
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