Ao falar sobre a Juventude Negra devemos abordar a questão do genocídio, que no Brasil atinge principalmente os jovens negros do sexo masculino. Porém, não se pode deixar de lado as estratégias que os jovens negros adotam para sua sobrevivência e subsistência. Algumas muito importantes, como a atuação no empreendedorismo, a militância política e social, e a luta na consolidação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento do racismo.
A busca pela autonomia econômica e acesso ao trabalho e renda, por parte da juventude negra, está cada vez mais na pauta dos gestores públicos, das grandes empresas, instituições de pesquisa e educação, Ministério Público do Trabalho e bancos, como uma das estratégias de enfrentamento do racismo. Diversas unidades da Federação têm adotado medidas para fomentar a criação de Políticas Públicas que busquem estabelecer metodologias de programas e planos que potencializem as iniciativas oriundas das comunidades negras.
No Distrito Federal temos o exemplo do Programa de Afroempreendedorismo, implementado em 2016. Ele tem marcos regulatórios consistentes e estabelece estreito diálogo com a Rede de Afroempreendedores, buscando consolidar uma rede de serviços que vai de Afroincubadoras à linha de crédito para os empreendimentos. Outro ponto importante do programa é utilizar a lógica da economia criativa, do associativismo, do cooperativismo, para instrumentalizar os empreendimentos que aderirem ao programa.
Violência
Ao analisarmos a realidade dos jovens negros em nosso país, vemos que têm sofrido com uma violência sem precedentes. De acordo com o Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. No Brasil, de 2005 a 2015, 318 mil jovens foram assassinados. 2.650 por mês. 88 por dia. 3 por hora. Em média, 1 a cada 16 minutos. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios
Para enfrentar estes índices se fazem necessárias estratégias transversais, que busquem a implementação de políticas nas diversas esferas do Estado e da sociedade. O estabelecimento de Ações Afirmativas nos setores público e privado é primordial, mas é fundamental que a segurança pública tenha a temática racial no seu eixo central, assim como as políticas de assistência, trabalho, saúde, educação se fundamentem também neste parâmetro e não apenas na perspectiva social.
Maioria
Na perspectiva de modificar os índices acima apresentados, a juventude negra tem atuado de forma significativa, estratégica e transformadora no Empreendedorismo. A maior parte dos empreendedores brasileiros são afrodescendentes, é o que afirma a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, patrocinada pelo Sebrae no Brasil. Em 2014, dos 24,9 milhões de empreendedores existentes no país, 51% (12,8 milhões) se declararam negros e 48% se declararam brancos. O 1% restante representa a categoria “Outros”, que inclui predominantemente os amarelos, os indígenas e os que não declararam sua raça/cor.
Entre 2001 e 2014, a participação relativa dos empreendedores negros cresceu 8%. Esse fenômeno é consistente com aquele observado na população brasileira de modo geral. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elaborado com base nos últimos dois Censos Demográficos (2000 e 2010), na última década houve expansão expressiva do número de pessoas que se autodeclaravam negras. Os dados indicam que a população negra chegou a superar a branca em termos absolutos, a partir de 2012. Praticamente metade dos empreendedores tem menos de 40 anos e, em relação aos jovens, 75% deles estão empreendendo pela primeira vez e a maioria com ensino superior completo/incompleto.
Há uma sinalização de que a juventude negra está seguindo uma mudança cultural que ocorre de forma gradativa. Ela está percebendo que o empreendedorismo pode ser uma forma de protagonizar uma transformação de alto impacto social e econômico.
A incorporação de milhares de jovens negros, a quem lhes é negada a oportunidade de transgredir os territórios periféricos das cidades, visa atingir os desafios propostos pela Unesco. Para isso, fomentar a educação empreendedora e estimular a criatividade dos jovens, transformando as suas ideias em projetos aplicados, por exemplo, na metodologia de afroincubadoras proporcionará aos futuros empreendedores oportunidade de aperfeiçoarem e atuarem no mercado de trabalho. No caso, tirar proveito da inovação aliada às novas tecnologias e do debate sobre as relações étnico raciais, permite fortalecimento da identidade étnico-racial negra, fazendo uso de novos espaços como os CEU das Artes, as escolas técnicas, onde a formação unilateral está no centro do seu projeto político pedagógico, entre outros equipamentos públicos, e assim lograr o desenvolvimento de micro e pequenas empresas que estimulem a geração de empregos e o progresso social e econômico dos jovens negros.