Cabe mais uma vez insistir: não nos interessa a proposta de uma adaptação aos moldes da sociedade capitalista e de classes. Esta não é a solução que devemos aceitar como se fora mandamento inelutável. Confiamos na idoneidade mental do negro e acreditamos na reinvenção de nós mesmos e de nossa história. Reinvenção de um caminho afro-brasileiro de vida, fundado em sua experiência histórica, na utilização do conhecimento crítico e inventivo de suas instituições golpeadas pelo colonialismo e pelo racismo. Enfim reconstruir no presente uma sociedade dirigida ao futuro, mas levando em conta o que ainda for útil e positivo no acervo do passado. Abdias do Nascimento O objetivo deste artigo é reconstruir em concisos apontamentos, a história do movimento da negritude, apresentando alguns de seus dilemas, contradições e reflexo no interior do movimento negro internacional na luta pela libertação dos povos africanos e da diáspora. Por último abordaremos como esse movimento foi introduzido no Brasil. O termo negritude vem adquirindo diversos “usos e sentidos” nos últimos anos. Com a maior visibilidade da “questão étnica” no plano internacional e do movimento de afirmação racial no Brasil, negritude passou a ser um conceito dinâmico. Caráter político, ideológico e cultural. No terreno político, negritude serve de subsídio para a ação do movimento negro organizado. No campo ideológico, negritude pode ser entendida como processo de aquisição de uma consciência racial. Já na esfera cultural,negritude é a tendência de valorização de toda manifestação cultural de matriz africana. Portanto, negritude é um conceito multifacetado, que precisa ser compreendido a luz dos diversos contextos históricos. Neste artigo pretendemos traçar uma breve reconstrução histórica do movimento da negritude, apresentando alguns de seus dilemas, seu reflexo no interior do movimento negro internacional e de que maneira foi introduzido no Brasil. O movimento da negritude, na fase inicial, cumpriu um papel revolucionário, rompendo com os valores da cultura eurocêntrica. No entanto, na medida em que se ampliou e adquiriu uma conotação mais política, diluiu seu potencial transformador. O movimento passou a padecer de uma série de contradições insolúveis, a ponto de alguns de seus principais dirigentes defenderem posições políticas conservadoras. O movimento da negritude nasce fora da África O movimento da negritude foi idealizado fora da África. Ele provavelmente surgiu nos Estados Unidos, passou pelas Antilhas; em seguida atingiu a Europa, chegando a França aonde adquiriu corpo e foi sistematizado. Depois, o movimento expandiu-se por toda a África negra e as Américas (inclusive o Brasil), tendo sua mensagem, assim, alcançado os negros da diáspora. O afro-americano W. E. B. Du Bois (1868-1963) é considerado o patrono do panafricanismo, movimento político e cultural que lutava tanto pela independência dos países africanos do jugo colonial quanto pela construção da unidade africana. Pelo fato de Du Bois ser uma das primeiras lideranças a adotar com veemência um discurso de orgulho racial e de volta às origens negras é considerado da mesma maneira, o pai simbólico do movimento de tomada de consciência de ser negro, embora o termo negritude tenha sido cunhado somente anos mais tarde.
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Autor: Valneide Nascimento dos Santos
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