Dando continuidade aos debates em torno da construção física e conceitual do Museu Nacional da Memória Afrodescendente, a mesa “Histórico e situação atual”, do Seminário homônimo que acontece nessa quarta e quinta-feira (28), em Brasília, reuniu o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Hilton Cobra, a representante do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus, Eneida Braga, e o historiador Manolo Florentino, da Fundação Casa Rui Barbosa. Preservação da memória e cultura negra – Na ocasião, Florentino apresentou uma linha do tempo sobre o desenvolvimento da população negra desde a abolição até meados do século 20. Segundo o historiador, é papel do Museu Afro contar a memória recente afro-brasileira. A representante do IBRAM, Eneida Braga, ressaltou o trabalho do Instituto para o projeto do Museu, assim como as tratativas para elaboração do edital internacional que vai selecionar o projeto arquitetônico e museológico do espaço. Segundo ela, os resultados dos debates no Seminário serão importantes subsídios para o Museu. Memória e diáspora – Para Hilton Cobra, acrescenta que o Museu Afro será um grande projeto de guarda e valorização da memória da população negra brasileira. O presidente espera que sua construção contribua para aumentar o significado e a importância da Fundação Cultural Palmares dentro do Ministério da Cultura (MinC). Jurema Machado, do (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), destacou a importância de locais que preservem a cultura afro-brasileira. Jurema citou o exemplo do Cais do Valongo, sítio arqueológico significativo por representar a memória africana fora da África. Ela contou que o local é candidato a se tornar Patrimônio da Humanidade. Representações das realidades – A segunda mesa do dia apresentou a proposta conceitual para o Museu Nacional Afro. Graça Teixeira, coordenadora do Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia, chamou a atenção dos museus como espaços de conflito e poder. “São lugares de encontro, reencontro e descobertas, além de espaços de construção e reconstrução de conhecimentos”, afirmou comparando a realidade dos demais memoriais ao seu local de trabalho. De acordo com Graça, o mapeamento e a escuta são as principais ferramentas à estruturação do acervo, pois um museu de porte nacional precisa contemplar as realidades das mais longínquas comunidades às mais centralizadas, respeitando os seus aspectos. “Precisa atender o modo como cada uma delas quer ser representada”, ressalta. Para esta representação, os espaços podem contar com objetos-documentos, mídias e tecnologias que dêem suporte às reproduções dos modos de fazer. Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, conselheira da Fundação Palmares, afirmou que o museu deve ser o responsável pela descolonização de corpos e mentes de todos os brasileiros. “Não é um museu para os negros, mas sobre os negros da diáspora para toda a nação”, disse. “Precisamos evidenciar como povos assujeitados à escravidão se recriaram e constituíram um novo povo”. Nesse sentido, Lígia Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo, destacou a necessidade de os museus serem considerados espelhos para o futuro. “Olhando o passado, a memória, falamos com o presente e deixamos mensagens para o futuro numa linguagem com manifestações contemporâneas”, concluiu. Os debates do seminário “Rumo ao Museu Nacional da Memória Afrodescendente” continuam na tarde de hoje (28), de onde serão retiradas propostas para a construção desse espaço de memória.
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Fonte:Palmares Fundação Cultural.
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