Quis o destino, que uma forte pandemia de um vírus muito poderoso e fatal, acomete-se a humanidade neste ano de 2020.
Em razão disso, mundo afora, as nações vão fazendo seus arranjos e se adaptando a esta nova realidade, que, interfere diretamente na vida, a nos costumes enfim na cultura das nações.
No Brasil, por estas ironias do destino, as eleições municipais deste ano tiveram que ser adiadas para o dia 15 de novembro, uma vez que, em tempos normais seriam realizadas no primeiro final de semana de outubro conforme preceitua a constituição federal. E vejam, isto é matéria constitucional, ou seja, faz parte das leis e do conjunto de regramentos que organizam a nação brasileira.
O mais irônico disso tudo, é que, em novembro, a militância negra brasileira vem com muita luta e garra, transformando este mês num símbolo de resistência e combate ao racismo institucionalizado estruturalmente, fato é que, no dia 20 comemora-se o dia nacional da consciência negra em razão de marcar a data da morte do líder negro Zumbi dos Palmares no ano de 1695 dando conta das primeiras e mais longínquas experiências de organização, resistência e luta contra a escravidão que temos noticia no Brasil.
Pois bem, ao entender que as eleições deste ano de 2020 deveriam ocorrer no dia 15 de novembro o TSE coloca para os negros e negras do pais mais um desafio, alem do que, para alem de garantir a segurança sanitária e jurídica do pleito, o referido tribunal desafia a população brasileira a refletir sobre a representatividade política da sociedade onde as desigualdades raciais ainda preponderam. Obviamente, que foi uma casual coincidência, mas, esta coincidência nos remete para uma analogia inconteste.
Porque estas eleições terão que ser realizadas justamente no “mês da consciência negra”, a cinco dias do dia nacional da consciência negra?
Para um militante orgânico e instigador da reflexão dos negros e negras e dos aliados da luta antirracista, esta coincidência só pode vir para provocar e aferir o nível de consciência política e critica que esta comunidade acumulou ao longo dos anos, ou seja, se de fato adquirimos consciência de pertencimento étnico , e se, concordamos que existe uma desigualdade brutal na representação deste contingente populacional que ajuda a construir as riquezas de toda ordem neste pais, nos parlamentos e executivo.
Se verdadeiro isto, então chegou a hora da mudança, ou ainda, de começar a mudar esta realidade, fazendo com que o voto mais consciente de mais da metade da população brasileira equilibre estas representações e supere esta chaga.
Na esteira dos movimentos e fatos que mostram a desigualdade, as atrocidades, as sub representatividades enfim toda sorte de formas de discriminação e racismo praticados mundo afora, a população negra e aliados da luta antirracistas, são desafiadas a iniciar a maior mudança estrutural na representação política institucional do pais, aderindo a uma campanha nacional pelo voto em candidaturas de negras e negros comprometidos com estas lutas humanitárias, civilizatórias, antirracistas e por políticas públicas nas cidades brasileiras.
O TSE com a confirmação do STF, as Universidades, alguns governos, organizações da sociedade civil, a OIT a ONU e mais recentemente empresas privadas mostram que apoiar a diversidade e incluir equitativamente a comunidade negra em todos os espaços são avanços necessários para termos uma sociedade mais igual, mais justa, mais fraterna, mais humanizada.
Faltam, as massas, os moradores das periferias, das favelas, dos morros, dos mangues, das palafitas enfim dos desvalidos do campo e da cidade aproveitar esta coincidência e transformarem este novembro de 2020 no ano do voto consciente em negras e negros em todo o Brasil.
Se não garantimos igualdade material ao menos teremos mais igualdade de representação política nos parlamentos e executivos municipais.
Chegou a hora de darmos um passo a frente rumo a libertação da consciência critica e política dos pretos, pardos pela Promocao da igualdade racial no Brasil.
Valneide Nascimento dos Santos – Militante do movimento negro organizado no Brasil.