Militante partidário do PSB ao longo dos últimos 26 anos, Carlos Siqueira foi líder estudantil da juventude comunista aos 18 anos, Primeiro Secretário do PSB, Presidente da Fundação João Mangabeira e hoje é Presidente Nacional do PSB. Grande defensor das causas socialistas, capaz de ouvir e somar perspectivas como o intuito de combater a naturalização da superveniência e da miserabilidade, fortalecendo assim uma cultura política que compreende as potencialidades das diferenças. ____________________________________________________________________________
1. Como é trabalhar as questões dos negros dentro do contexto do PSB? Há muito tempo o PSB possibilita a inserção da negritude nas instâncias internas do Partido, com destaque para a criação das Secretarias Nacional, Estaduais e Municipais do segmento, que são membros natos das respectivas Comissões Executivas. A partir desses Fóruns, ainda que não exclusivamente por meio deles, a negritude pode de forma objetiva incidir sobre a atuação partidária, contribuindo para formulação de pautas, organização de programas de governo, desenvolvimento de políticas públicas etc. Evidentemente o segmento também participa do esforço eleitoral do Partido, em todo o território nacional, propondo candidaturas comprometidas com suas causas. 2. Quais os principais avanços que acredita terem ocorrido para a população negra nos últimos anos? Sabemos que a realidade objetiva do povo negro ainda não mudou de forma sensível no Brasil e que persistem muitas assimetrias, em termos de acesso a direitos, remuneração e oportunidades no mercado de trabalho, respeito a sua especificidade. Desse modo, creio que seja mais adequado afirmar que o grande ganho se encontra na maior visibilidade que as pautas da negritude alcançou nos últimos anos. Inicialmente com relação a suas particularidades e especificidades, que vão desde a valorização de cor de pele, cabelos, ou seja, uma beleza própria à etnia e que abre um espaço de liberdade possibilidades, em meio aos padrões estéticos e culturais concebido pela e para a população branca. Acredito que houve ganhos, também, no reconhecimento que o País precisa contribuir de forma efetiva para superar as desigualdades históricas existentes, o que tem levado ao estabelecimento de políticas afirmativas, que atuam pelo aspecto da equidade, o que reputo uma vitória muito importante. Concluo, portanto, com o sentimento de que tivemos avanços significativos na agenda, que ainda precisam se materializar de forma mais concreta em meio à realidade do povo negro. 3. Como entende ser possível viabilizar o empoderamento do negro na sociedade? Já indiquei como o PSB tratou esse tema, algo que entendo ser importante para fins de empoderamento. A questão apresenta, no entanto, o outro lado da moeda, ou seja, a necessidade de que a negritude milite em diferentes instâncias da sociedade civil, no sentido de levar sua mensagem e mobilizar para as pautas fundamentais a sua luta. Fico satisfeito, nesse sentido, em acompanhar o que a NSB tem feito, tanto no sentido prático do termo, inclusive nas eleições de 2016, quanto no que se refere ao que poderíamos chamar “pedagogia” de suas bandeiras. Tenho visto, por exemplo, material audiovisual produzido pelo segmento, que trata de questões importantes, como formação política, avaliação da tensão racial em outras partes do mundo, etc. 4. Como inserir os negros no executivo e legislativo no Brasil Muita luta, porque não se vence na política sem uma dose elevada de persistência e obstinação, virtude que reconheço existir na LGBT Socialista. Outra coisa que reputo importante é inserir agendas da negritude em plataformas políticas gerais da sociedade como, por exemplo, programas de governo em disputas majoritárias, nos níveis municipal, estadual e federal. 5. Fale algo referente ao dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra. As datas comemorativas têm algo em comum, ou seja, possibilitar uma pausa para reflexão sobre um grande personagem, sobre um evento e, no caso, sobre todo um povo. Creio que nesse dia, portanto todos os brasileiros precisam refletir sobre e rememorar a enorme contribuição do povo negro para a constituição da nação e da nacionalidade. Nossa alegria, musicalidade, cultura, religião são inseparáveis dos caminhos da negritude e, portanto, temos que pensar sobre o modo como temos retribuído historicamente essa importância e nosso papel para que tal retribuição se efetive, inclusive em termos de ações que construam um tratamento equitativo em direção ao povo negro. Quero afirmar que para nós todos, do PSB, essa é uma bandeira e, portanto, esperamos ser seus agentes políticos, no sentido de diminuir as diferenças que ainda persistem no país e que não fazem justiça à imensa importância da negritude para a brasilidade.
Colaborou para essa entrevista o jornalista Marcelo Peron
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Jackson Bueno
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