Em sua forma de organização social e de produção, quando há abundância de terras para plantar, e nas comunidades de Remanescentes de Quilombos, como nas Comunidades Tradicionais Negras existentes no Estado do Paraná, as famílias seguem normas e critérios utilizados pelos mais antigos, ou seja, pelos fundadores da Comunidade, com quem aprenderam. Fazem questão de manter e preservar este conhecimento e possuem a mesma forma de organização cooperativista que possibilitou no passado e até os dias de hoje, uma economia de abundância. Os negros escravizados, que ao fugirem das grandes fazendas, com os libertos, e alforriados adotaram uma economia de subsistência, que existe até os dias de hoje com “pequenos roçados”, produzindo “de tudo para o sustento da família e das criações”. Isso prova que, quando não são obrigados a cultivar grandes lavouras sob as ordens dos grandes fazendeiros e sem as constantes ameaças de madeireiros, eles prosperam a ponto de assustar a aristocracia rural, que vê nessa forma de uso do solo, uma ameaça aos latifúndios, que pouca ou quase nenhuma vantagem oferecem aos seus trabalhadores.Com base na diversificada agricultura praticada pelas famílias que habitam nos Quilombos e nas Comunidades Tradicionais Negras paranaenses, as pequenas lavouras de mandioca, milho, banana e feijão passam a ter um relevante destaque no panorama alimentar no estado e no país. Nas Comunidades Negras e Quilombolas existe fartura que oferece contraste com a contínua miséria alimentar da população do entorno. A abundância da mão-de-obra, o trabalho cooperativo e a solidariedade aumentam a produção e ainda sobra para trocar por produtos que a comunidade não tem.É possivel também vender para os vizinhos, para a merenda escolar, nas feiras agrícolas ou para o PAA do governo federal. MUTIRÃO É mantido até hoje o sistema de mutirão, principalmente no Vale do Rio Ribeira entre as Comunidades Tradicionais Negras e as Quilombolas do Estado do Paraná e do Estado de São Paulo.Para se unir é só atravessar o rio de canoa e participar do mutirão que pode ser para abrir roça, carpir, colheita de arroz e feijão, limpar as trilhas, construir canoas, construir casas, limpar as estradas. Aquele que organiza o mutirão, chama as pessoas E cada um leva sua ferramenta. O dono da casa fornece a alimentação para o dia de serviço e, e ao final oferece um baile com sanfoneiro ou, na falta deste, com aparelho de som.Oferece comida e bebida durante a festa, que vai noite a dentro chegando até as 8 horas da manhã, quando é oferecido café da manhã e até o almoço. Segundo relato de Clarinda, da Comunidade de Remanescentes de Quilombos de João Surá em Adrianópolis; … “a maioria das pessoas que aqui vive, trabalha mesmo na lavoura, agente faz de tudo um pouco, aquí nós temos pedreiros, carpinteiros, só que a gente trabalha para nós mesmos. Se vai pagar alguém de fora para fazer algo dentro da comunidade, a agente mesmo faz. Plantamos de tudo um pouco como a banana, a mandioca, o milho, o arroz, a batata-doce, a cana-de-açúcar, o feijão, a abóbora, o cará.O forte mesmo é a mandioca para a casa de farinha. Nós criamos porcos e galinhas. A gente vende pros vizinhos ou troca por alguma coisa que falta, tem algumas pessoas que vem até aqui na comunidade para comprar”, completa dona Joana a mãe do Antonio.” Além do cultivo desses produtos, a produção da farinha de mandioca é bastante importante para o quilombo.
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Clemilda Santiago Neto-NSB
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